A inspiração para este título é mais ou menos óbvia, e a de Frankie Chavez é ainda mais – as suas filhas gémeas, que se juntam aos rapazes para formar uma banda de quatro. Também quatro são os membros que compõem este projeto, que lança um novo disco e faz all in: É Double or Nothing.
Double or Nothing remete para o nascimento das tuas gémeas. Até que ponto o facto de seres pai condiciona a tua vida de artista?
Ser pai torna sempre tudo diferente, e nós mudamos com isso. Eu já era pai de dois rapazes e agora com as gémeas fiquei de quatro e isto duplicou tudo. O que mudou de forma mais direta foi ficar quase sem tempo, numa altura em que andava em gravações e pré-produções. Fui para o estúdio em agosto, tinham elas três ou quatro meses, o que resultou em noites mal dormidas e em tempo muito contado. Isso condiciona um pouco o trabalho como músico, mas estou longe de me queixar – é inspirador! Aliás, se não tivesse tido as gémeas certamente que o disco soaria de maneira diferente. Há desgaste, cansaço e falta de paciência, mas a parte boa é vê-los crescer!
Os teus filhos tornaram a tua música mais calma?
Não sei se isso é linear, mas parece-me que certos temas ficaram mais densos. Contudo, também passámos mais tempo no estúdio, tivemos tempo para explorar ideias, e sem as gémeas talvez tivesse gravado o disco todo em quinze dias. Acho que foi um conjunto de circunstâncias que fez com que soasse assim.
Como é que é isto de ser filho de um músico?
Eles gostam de ir ao estúdio e de tocar! Mas quando tenho concertos – e sobretudo quando tenho digressões fora do país – passo vários dias sem os ver. E quando chego a casa, a primeira pergunta que me fazem é “porque é que o pai nunca cá está?” – o que significa que eles também já começam a acusar a minha ausência.
Mas já estou a planear uma semana com eles agora no verão, vamos fazer uma tour de caravana e vou acabar a dar um concerto acústico no Algarve, e eles vêm comigo. Vai ser porreiro!
O título do disco também remete para o tudo ou nada. É assim que encaras esta fase para o projeto Frankie Chavez?
Sempre que um disco sai há a expetativa de perceber como é que ele vai ser aceite pelo público. Vai mudar alguma coisa? Vou tocar mais, vou tocar menos? O pessoal vai gostar? Confesso que este disco me preocupa um bocadinho menos, no sentido em que quis fazer algo que me satisfizesse e que me desse gozo tocar. Tentei não ir atrás desta ou daquela música, e pela primeira vez dou por mim a ouvir um disco meu – dantes fartava-me rapidamente daquilo que fazia. Deu-me muito gozo fazer este álbum, porque estávamos os três em formato banda e a divertirmo-nos a tocar.
Mas sim, de certa forma é um tudo ou nada, porque deixei de estar completamente sozinho para passar a fazer parte de uma banda. Agora é ver até onde é que vai, e se é para continuar assim. É preciso não esquecer que isto é rock e que é meio contracorrente…
Achas que o projeto Frankie Chavez atingiu o formato e a dimensão ideal?
Não penso crescer mais que isto, na verdade. Talvez continuemos assim, talvez um dia faça um disco completamente sozinho, só com a guitarra… Tento sempre fazer coisas diferentes, surpreender-me a mim mesmo e crescer como músico. Quando estiver sempre a fazer a mesma coisa é porque estagnei.
O teu primeiro disco [Family Tree] era mais folk, o segundo era mais arrojado [Heart & Spine] e o Double or Nothing parece ter um pouco de tudo. Era essa a tua ideia?
Acho que sim, porque são dois universos que me preenchem enquanto músico. Tal como gosto de tocar sozinho em formato acústico e de tocar em registo banda. A determinada altura quis explorar os teclados, e o que começou por funcionar em duas músicas depressa evoluiu para sete ou oito. Este é sem dúvida o disco que mais soa a banda.
E estes estilos musicais casam bem com os restantes elementos da tua banda?
Sim, sim. Eu acho que aqui toda a gente tenta servir a música, e às vezes o acrescentar é tirar. Toda a gente está com essa postura e nem sempre temos de tocar os quatro – há músicas que apenas pedem guitarra e voz. Eu pedi muito a opinião deles para este disco e resultou em cheio.
Frankie Chavez é alguém que sempre quis dar à guitarra portuguesa uma sonoridade diferente?
Sim, de certa forma. Antes de escrever canções o que eu fazia era tocar guitarra, era essa a minha abordagem à música. Comecei por explorar a guitarra convencional, depois a elétrica e só depois a portuguesa, nas suas afinações standard. E após tudo isso comecei a perceber que, mudando as afinações, poderia ir buscar coisas totalmente diferentes. Suscitou-me muito interesse fazê-lo, e acho que é aí que consigo chegar a uma linguagem própria. Fiz isso e continuo a fazer, e é talvez na guitarra portuguesa que isso se torna mais notório, pelo som tão característico que tem e que toda a gente está habituada a ouvir no fado.
Este novo formato banda torna os concertos de Frankie Chavez diferentes do que eram até aqui?
Não vai ser totalmente diferente mas estamos a preparar arranjos para tocar as músicas que até aqui não conseguia tocar ao vivo sozinho, e para não desvirtuar aquelas que foram feitas só por mim. Acho que estamos em condições de servir bem todas elas.
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: Universal Music Portugal]