Pedro Vidal, guitarrista e diretor musical de Jorge Palma, lançou o projeto Desconectados, com o disco “Liberdade Incondicional”, e faz-se acompanhar de Eurico Amorim nas teclas, Miguel Barros no baixo e Bruno Oliveira na bateria. Este é o projeto que impulsiona o artista numa carreira a solo em colaboração com nomes relevantes do panorama musical, como Jorge Palma, Manel Cruz, Mário Laginha, Carlos Tê e Mário Barreiros, nos 12 temas que compõem o álbum.

MS- Costuma-se dizer que setembro é o mês dos recomeços e coincidiu com o lançamento do disco. Pode-se dizer que este projeto dá início a uma nova fase do Pedro enquanto artista? É assim que quer que o público o veja?
PV- É algo que tenho trabalhado já há bastante tempo. Sempre foi um desejo grande de tentar compor algo que acreditasse que fosse bom suficiente, pelo menos dentro da minha sensibilidade, para partilhar com o público. Sempre foi um desejo antigo e quero, sem dúvida, abraçar com toda a energia e com todo o foco, apesar de, basicamente, a minha carreira ser como guitarrista e a acompanhar pessoas que eu admiro imenso e que é um prazer enorme poder acompanhar.
MS- Como chegou à decisão de lançar uma carreira solo, depois de todos os projetos com Jorge Palma e as colaborações com bandas como Blind Zero e Wray Gunn?
PV- Sempre tive essa vontade. Aliás, desde que comecei a tocar guitarra, provavelmente, com 13 anos comecei desde logo a fazer as bandas na Escola e gostava de compor e cantar, mas no fundo. Mas a vida foi me levando mais para um percurso como guitarrista. E ainda bem, tem sido incrível. Neste momento acho que acreditei o suficiente que as canções podiam ter valor. Principalmente porque também há uma mudança no que se refere à forma como estava a fazer canções. Sempre fiz rock inglês e a esta mudança para a língua portuguesa tem sido um processo longo. Ainda estou no início, é, para mim, um processo de aprendizagem. Não foi uma decisão do tipo “agora vou fazer uma carreira mais de autor”, foi só mesmo o concretizar de um desejo de há muito tempo. Tanto eu como as pessoas que estão comigo, acreditamos que tem algo diferente e que pode acrescentar à música portuguesa e é este o seu objetivo. Queremos construir uma carreira a partir daqui.
MS- Como está a ser a experiência em trabalhar com Eurico Amorim, Miguel Barros e Bruno Oliveira?
PV- Incrível. O Bruno é o baterista, por acaso é a pessoa que eu conheço há menos tempo, mas quando começamos a tocar juntos… A energia dele. Para mim foi como se tivesse encaixado que nem uma luva. Sou fã do Miguel Barros, desde os meus 14 anos talvez. Sempre foi um ídolo meu. É um grande músico português e toca por exemplo com Pedro abrunhosa, um grande artista e pensei “ele não vai ter tempo para me aturar agora”, mas felizmente o nosso universo encontrou-se outra vez e juntámos as duas vontades, com a do Eurico que também já estive com ele muitos anos num projeto com a Marta ren que era uma banda que nós tínhamos que era um espanca Lixa só versões de funk. Afastei-me deles um bocadinho quando fui morar para Lisboa e fui me distanciando, mas quando voltei, rapidamente, me juntei a eles outra vez. Adoro a energia deles todos, como músicos são todos fantásticos, mas acima de tudo, a maneira como nós nos ligamos e conseguimos trabalhar, para mim, é muito importante.
MS- Porquê “Desconectados”?
PV- Primeiro surgiu a música “Desconectados” que foi o primeiro single em 2020. Não me estava a cair bem a ideia de um projeto a solo Pedro Vidal, até porque cada vez mais existem artistas em nome individual. Através do feedback da nossa super agente Mariana que disse “pá uma banda de rock tem que ter o nome de uma banda, não é?”. Começamos a procurar e até foi um amigo meu que se pergunta “porque não Desconectados?”. Fez sentido para mim. É uma palavra que gosto até tenho a minha ligação muito própria com o nome. As pessoas são livres de interpretar o que quiserem, mas para mim, é o meu aviso para não desconectar das coisas que realmente são importantes no dia-a-dia. Um alarme para colocar o foco no que é importante.
MS- Já agora o que representa “Liberdade Incondicional”?
PV- Liberdade Incondicional é o último tema do disco, o número 12. Dentro do mundo musical, existe cada vez mais opções, mais projetos e mais condições técnicas para fazer tudo. Ao mesmo tempo também sinto que há muitas barreiras que vão aparecendo e, para mim, esta liberdade incondicional é precisamente não ter barreiras na criação para explorar os nossos limites e permitir a nós próprios errar e voltar a fazer. Acreditar nas nossas ideias e procurarmos a nossa identidade como músicos, como pessoas e arriscarmos ser livros na nossa arte.
MS- De todos os temas, qual foi o mais desafiante?
PV- O mais desafiante, provavelmente, terá sido a “Panela de Ciúme”, um tema da autoria do Carlos Tê. Já somos amigos há muitos anos, já fizemos várias peças de teatro juntos, não como autores, mas como músicos. Tinha sempre muitas canções e na altura comecei, nesta fase de composição, a procurar coisas e ele foi generoso o suficiente em emprestar-me alguns temas para experimentarmos. Quem houve esta canção não acredita que tem 3 ou 4 versões para trás e que são completamente diferentes todas umas das outras. Esse processo acaba por ser desafiante porque a primeira versão era uma coisa bem mais rock, mas depois vimos que não era este o caminho e voltávamos à estaca zero. Fizemos outra versão e “será que é isto?”, depois chegou a um ponto que já estou perdido, mas no fundo esta canção teve cera de 4 ou 5 versões diferentes até chegar ao formato que as pessoas podem ouvir. Foi este o desafio.
MS- Qual foi o dueto mais provável e o mais improvável?
PV- O menos improvável, até pelo caminho musical que temos, é a participação do Mário Laginha. Para além de ser um monstro musical, é uma pessoa que não está muito distante do pop rock. O Jorge Palma é uma ligação muito próxima, não é?
MS- O que representou a colaboração com o Jorge Palma em “Frio de Inverno”?
PV- O Jorge entrou na minha vida, até se calhar mais por causa de Palmas Gang – a banda que ele tinha – nos meus 16/17 anos. A partir daí, fui sempre acompanhando mais as suas coisas. Mas nunca pensei na vida em tocar com ele que é um privilégio enorme. Colaborar com, sem dúvida, um dos meus músicos portugueses preferidos de sempre a cantar uma música minha comigo, é surreal. É um sonho incrível mesmo, não consigo expressar de outra maneira.
MS- Quais são as particularidades deste álbum, já que foi um projeto pensado durante confinamento?
PV- O processo começou em 2018. O primeiro single saiu em 2020, já depois do confinamento. Quem quiser ouvir o disco seguido, ou seja, as 12 canções seguidas, vai perceber que apesar de haver um fio condutor que liga o disco todo, acho que nunca deixa de ser um disco de rock. Com vários mundos. Temos temas como “Turbilhão”, com aquela energia mesmo rock, com baterias, guitarras rivers. Já o “Se eu fosse Deus” com piano e voz e o “Frio de Inverno” com cordas e piano. Das coisas mais bonitas que existe são os vários momentos sónicos, é uma particularidade do disco. Tem a mesma linguagem sónica e o mesmo estilo de letras. Existe uma viagem interessante a fazer por alguns mundos diferentes. É um processo muito particular, são 4 anos de pesquisa, de busca, de chegar a sítios que achamos bons e depois afinal se calhar já não são e voltamos dois passos atrás. Tem também a particularidade de atravessar a fase em que eu saí de Lisboa, volto para o Porto e volto a aproximar-me de pessoas com quem já não estava há algum tempo. No fim destes 4 anos, o universo foi ligando aquilo que era importante. Está muito interessante, até pelo facto de o álbum contar uma história, numa espécie de narrativa. Apesar de se poder ouvir as músicas sozinhas. Até porque, hoje em dia, está a perder-se muito o hábito de ouvir os álbuns e focado nos singles, mas, no fundo, sempre acreditei. Foi assim que eu cresci. Funciona como um espetáculo que tem que ter determinada história, seguir determinada dinâmica e energia. O disco tinha mais canções, mas estas doze sobreviveram ao escrutínio e contam, cada um delas, a sua história.
MS- Em que plataformas podemos ouvir as canções?
PV- Podem encontrar algumas das canções nas plataformas digitais. Neste momento não existe edição física, mas estamos a pensar fazer vinil.
MS- Em relação ao futuro, quais são os próximos projetos?
PV- Gostava de poder, mas ainda não posso divulgar. Sigam o Instagram Oficial dos Desconectados, vão lá estar muito brevemente divulgadas, uma data em Lisboa e outra no Porto, provavelmente para fim de novembro para apresentação do disco. Queremos ir com toda a garra para fazer uma noite a que as pessoas saiam de lá muito felizes. Memorável, até para marcar este projeto a estreia.