Também entraste no mundo da escrita. És autor do livro Manual de Estilo Para Eles (sabe como ganhar um aqui!). Para quem não conhece o livro, como é que o descreves?
O livro fala por si. Acho que o homem tem de saber cuidar de si. Eu também gosto de andar de chinelos, andar de sapatilhas, de calções, mas acho que nós temos de saber cuidar de nós. Temos de estar preparados para tudo. Temos de saber usar um fato, gravata e papillon. Saber conjugar. Se não temos 10 ou 20 fatos, então que tipo de fato deveremos ter? Nem que seja um, mas tentar perceber o porquê de ter um para que ocasiões. É tentar fazer com que o homem ande cuidado todos os dias. Deve haver um cuidado com a nossa aparência, é um cartão de visita. É um livro para alertar o facto de termos que estar sempre preparados para o que quer que seja, uma entrevista de trabalho, por exemplo. Confesso que não sou propriamente um adepto assíduo da leitura, leio quando me apetece, e quando são apenas só letras é um bocado aborrecido. Por isso, é um livro em que todas as páginas têm ilustração. Aquilo sou eu, é o livro que eu iria gostar de ler. Tudo foi feito ao detalhe, com a minha linguagem, com os meus termos. Aquilo sou eu e não faria sentido fazer de outra forma
Se te cruzasses com o Paulo de 18 anos, o que diriam um ao outro?
O Paulo de 18 anos diria que quando fosse grande queria ser assim. Eu diria ao miúdo para acreditar nele e não desistir, que com trabalho tudo se consegue.
Hoje tens 42 anos e és um nome incontornável da alfaiataria. Como é que se chega a esse patamar?
Sabes o grande truque para tudo isto? Eu acho que as pessoas enchem-se delas próprias. Eu nunca tenho a noção de nada. Eu prefiro ser o mesmo Paulo. Faço o meu trabalho todos os dias sempre igual, ou seja, é não ter essa noção, se sou, se não sou… Quando oiço isso fico encavacado porque não tenho essa noção, não me quero debruçar muito sobre isso. Quero continuar a fazer o que eu gosto, que são fatos, e se puder fazer comunicação em televisão para aquilo que eu acho que vale a pena, faço, mas uma coisa é certa: eu fiz muita televisão o ano passado, mas foi a altura de dizer calma porque a minha vida são fatos, a minha paixão são fatos e nada se vai sobrepor a isso. Então, é ter sempre os dois pés assentes da terra e ir caminhando. Às vezes com ajudas de alguém, mas tu só caminhas com as duas pernas, por isso pés no chão e vamos embora.
Acaba por ser esse o conselho que deixas aos mais jovens. É fazer exatamente o que disseste, manter os pés assentes na terra?
Sem dúvida. Eu tenho um lema de vida que é: “o que terá que ser meu, irá ser”. Não precisa de ser já hoje, nem amanhã. Por isso, não vale a pena, o que tiver que ser, será. E aquilo que eu dizia quando recebi o Prémio Mercúrio, estavam lá imensos miúdos que estão a acabar os cursos. Eu aprendi alfaiataria onde já ninguém aprendia, eu andei numa academia em Lisboa onde já não se davam cursos há cerca de 16 anos. Fui para uma profissão completamente desconhecida de toda a gente. Aquilo que digo é: acredita. Nós, os portugueses, somos mesmo os melhores do mundo, acreditem nisso. Não há dúvidas. Mas é que não há mesmo dúvidas. Alguém criou Portugal e disse: “ali vão sair os melhores do mundo”. O problema é que nós andávamos a fazer o que os nossos pais queriam, o que nos era imposto, e de repente tens malta formada e que está a fazer pão, mas esse pão é o melhor pão do mundo. Não temos de ter vergonha nenhuma de fazer pão. Qual é o problema? Isso era antigamente, todos tinham de ser doutores, de ser engenheiros. A minha mãe assim o fez, fez sacrifícios para isso e graças a Deus a vida deu a volta de outra forma e cá estou. Por isso, eu sou exemplo vivo de que se acreditares, tudo acontece, agora, obviamente eu também quero tudo aquilo a que eu me proponho e ainda sonho, que aconteça amanhã. Mas, eu só sei que amanhã me vou levantar outra vez às cinco, isso eu sei.