Hoje é dia mundial do combate ao bullying e a Mais Superior esteve à conversa com Luís Fernandes, licenciado em Psicologia Educacional e mestre em Observação e Análise da Relação Educativa, que explicou a importância da informação nesta temática. Trata-se de um psicólogo que nos últimos 18 anos tem coordenado e supervisionado vários projetos na área do bullying e violência em idade escolar, realizando sessões e ações de formação e sensibilização, em todo o país, dirigidas a alunos, professores, educadores, funcionários, técnicos, pais/encarregados de educação e público em geral.
“Em relação à prevenção e combate ao bullying, é importante nós passarmos a mensagem de que é uma missão de todos que começa desde o pré-escolar até ao ensino superior, passando pelos outros ciclos de ensino, e mesmo ao longo da vida, porque deixa marcas que ficam para sempre. Há características que vão ficando enraizadas, porque o bullying passa-se muito nas idades em que estamos a formar a personalidade e há características que vão ficar vincadas, para bem ou para mal. Isso vai-se manifestar também no Ensino Superior. Miúdos que eram mais acanhados, miúdos que estavam mais isolados durante o segundo e terceiro ciclo, por exemplo, ou mesmo no secundário, tendem a ter o mesmo registo de funcionamento, os mesmos comportamentos no ensino superior”.
Mas afinal o que é o bullying? O termo aplica-se aos comportamentos agressivos entre crianças e jovens ocorridos em idade escolar. Tem como principais características, serem comportamentos repetidos, intencionais e que se desenvolvem numa relação de desequilíbrio de poder, ou seja, quando um aluno ou grupo consegue impor-se, através da força física e/ou psicológica, a outros. Nos últimos tempos, temos optado por utilizar a designação deste se desenvolver em “idade escolar” em vez de “meio escolar” já que, cada vez mais, este tipo de agressões se desenvolverem fora do ambiente escolar. Podem ser de diversos tipos, verbais, físicos, psicológicos, sexuais ou realizados através da Internet e dispositivos digitais, que cada vez mais são utilizados por crianças e jovens em idades mais precoces. Este último designado por cyberbullying, é como que um upgrade do bullying dito tradicional e pode se caraterizar por comportamentos de todos os tipos anteriores, ou seja, ações que antes se passavam, normalmente em contexto escolar e que eram observados por alguns alunos, agora quando filmados e partilhados podem tornar-se virais em poucas horas, resultando num sofrimento enorme para as suas vítimas, já que ganham uma dimensão e visibilidade nunca antes vistos, o que causa um sofrimento e desespero sem precedentes nas vítimas.
“Em em relação ao Ensino Superior, não varia muito dos outros ciclos de ensino. O que acontece é que, tendo em conta que são pessoas já adultas ou praticamente adultas, acaba por haver um refinamento em termos dos comportamentos. O excluir no ensino secundário não é a mesma coisa que no ensino superior, mas a base é a mesma, pôr de parte. Há sempre aqueles miúdos que são alvo de alguma piada, que quando é feito/organizado algum evento, eles não estão presentes. Muitas vezes, ou porque não são convidados ou eles próprios também, como ao longo dos anos foram sentindo postos de parte, não procuram participar nesses eventos. Mas não só, lembro-me de uma situação no ensino superior de um miúdo que logo ao início, depois isso deixou de funcionar, como é obvio, em que os colegas lhe davam apontamentos errados mesmo para ele estudar para as cadeiras, apontamentos que supostamente eram de anos anteriores. É importante que a denúncia seja feita. Quando eu digo a denúncia, muitas vezes a vítima pode ter a capacidade, “a coragem” de dizer aquilo que se está a passar. É importante os colegas, os observadores, os espectadores, aqueles que assistem esse tipo de comportamentos, que sejam eles elementos pró-ativos de terminar com esse tipo de situações e prevenir até que eles venham a acontecer com outros. Há muitas formas de acolher novos alunos. Muitas vezes são miúdos que estão fora do seu local de residência, estão completamente sozinhos e os elementos, as pessoas do mesmo curso ou da mesma faculdade, fazem toda a diferença na integração. Eu já tive situações em que não há esse enquadramento, não há esse acompanhamento logo inicial, e acabam por desistir do curso ou mudar até para uma universidade que não queriam, mas que é mais próxima de casa. Vemos os mesmos comportamentos que no 1º e 2º ciclo, onde muitas vezes os pais os mudam de escola. As dinâmicas são muito semelhantes. Alguns estudos apontam que normalmente as vítimas de bullying demoram 13 meses a denunciar alguma situação. Obviamente que este prazo é encurtado se houver um maior envolvimento por parte dos pares, por parte dos colegas, em que muitas vezes fazem chegar essa informação a quem de direito”.
Para finalizar, Luís Fernandes frisa, “bullying não conhece qualquer tipo de fronteira nem estatuto social. Não há um padrão, qualquer pessoa em qualquer momento pode vir a ser vitima de bullying, ou pelo menos assistir a este tipo de comportamentos”.